Caratê / caraté |
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Grafia |
Outros nomes |
- Tode
- Shimpi-tode
- Te-jutsu
- Toudi
- Toshu
- Toshu-jitsu
- Toshukuken
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Kanji |
空手 |
Hiragana |
からて |
Romaji |
Karate |
Informações gerais |
Escopo |
Aprimoramento corporal, para funcionar como arma |
Técnica(s) principal(is) |
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Técnica(s) secundária(s) |
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Origem |
País |
Ryukyu |
Cidade |
Naha
Shuri
Tomari |
Influência |
Antecedente(s) |
Te
Chuan fa |
Representação |
Sítio oficial |
Federação Mundial de Caratê |
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Caratê (português brasileiro) ou caraté (português europeu) (em
japonês:
空手,
transl. karate,
AFI:
[kɑʀɑtə]) ou
caratê-dô (
空手道, transl.
karate-dō AFI:
[kɑʀɑtədɵ])
[a] é uma
arte marcial japonesa (
Budō) que se desenvolveu a partir da arte marcial autóctone de
Oquinaua sob influência do
chuan fa chinês[b] e dos
koryu japoneses (modalidades tradicionais de luta).
A influência do
chuan fa foi maior num primeiro estádio e se fez sentir nas técnicas dos estilos mais fluidos e
pragmáticos da
China meridional.
[1] A influência das disciplinas de combate familiares do Japão, ou
koryu, é notada no desenvolvimento de movimentos diretos e simples, abandonando aquilo que não seria útil.
Seu repertório técnico abrange principalmente
golpes contundentes —
atemi waza —, como
pontapés,
socos, joelhadas,
bofetadas etc., executadas com as mãos desarmadas. Todavia, técnicas de projeção, imobilização e bloqueios —
nage waza,
katame waza,
uke waza — também são ensinados, com maior ou menor ênfase dependendo do onde ou qual estilo/escola se aprende.
[2]
O estádio da modalidade na transição entre os
séculos XX e
XXI tem dado ênfase à evolução do
condicionamento físico, desenvolvendo velocidade, flexibilidade e capacidade aeróbia para participação de competições de
esporte de combate, ficando relegada àquelas poucas escolas tradicionalistas a prática de exercícios rigorosos, que visam desenvolver a
resistência dos
membros, e de provas de
quebramento
de tábuas de madeira, tijolos ou gelo. De um modo simples, há duas
correntes maiores, uma tendente a preservar os caracteres marcial e
filosófico do caratê e outra, que pretende firmar os aspectos esportivo e
lúdico.
[3]
A evolução da arte marcial aconteceu capitaneada por grandes
mestres, que a conduziram e assentaram suas bases, resultando no caratê moderno, cujo trinômio básico de aprendizado repousa em
kihon (técnicas básicas),
kata (sequência de técnicas, simulando luta com várias aplicações práticas) e
kumite (
luta propriamente dita, que pode ser simulada, esportiva ou real).
Ainda que comunguem de similitude técnica e de origem, a partir do
primeiro quartel do século XX, surgiram diversas variações de escolas,
até umas dentro das outras, pretendendo difundir seu modo peculiar de
entender e desenvolver o caratê. Tal circunstância, que foi combatida
por mestres de renome, acabou por se consolidar e gera como consequência
atual a falta de padronização e entendimento entre entidades e
praticantes. Daí, posto que aceito mundialmente como
esporte, classificado como
esporte olímpico e participando dos
Jogos Pan-Americanos,
não há um sistema unificado de valoração para as competições,
ocasionando grande dificuldade para sua aceitação como esporte presente
nos
Jogos Olímpicos.
[4]
A despeito da enorme fragmentação, as várias escolas procuram seguir
num molde pedagógico, pelo que o estudioso dedicado da arte marcial
chama-se
carateca, isto é, aquele que busca desenvolver
disciplina,
filosofia e
ética,
além de aprender simples movimentos e condicionamento físico,
diferenciando-se assim do mero praticante. Nessa mesma linha, aquele
carateca que alcança o grau de faixa/cinturão preto(a) é chamado de
sensei.
História
Antecedentes
Mundo
Um contratempo logo surge quando se trata de estudar as origens das
artes marciais: não há como precisar o momento em que surgiram. O máximo
que se pode fazer são conjecturas a partir do caractere sócio-cultural e
traçar uma linha de acontecimentos mais ou menos coerente dentro de
certos aspectos, haja vista que alguns aspectos duma arte marcial (
v. g.,
algumas técnicas e/ou personagens) têm uma origem bem conhecida ou
documentada, porém, o conjunto não se fecha, se não se incluírem algumas
especulações. O que se sabe é que todos os povos que se organizaram em
sociedade
possuem alguma forma de defesa, isto é, pelo menos possuem uma força
armada, pois os ajuntamentos de pessoas eventualmente entravam em
choque, por recursos naturais ou outros motivos.
Naturalmente, seguindo uma linha evolutiva mais ou menos uniforme, tal como aconteceu com a
agricultura, a
pesca, a
música
e outras atividades, as artes marciais desenvolveram-se como
disciplina, surgindo mestres e aprendizes. Isso, por exemplo, pode ser
demonstrado pela existência das
falanges gregas, modelo que se impôs por certo tempo, até ser superado pelas
coortes romanas, e assim anterior e sucessivamente.
Da
Grécia vem outro exemplo de desenvolvimento das artes marciais como disciplina. As
cidades-estados disputavam a supremacia sobre as demais, pelo que apareceram os períodos
ateniense, espartano,
tebano etc. Dentro de tais circunstâncias, mormente em
Esparta
as disciplinas militares tiveram relevo, eis que naquele ambiente foi
dado destaque ao desenvolvimento físico, para fazer frente aos embates e
os cidadãos espartanos (
esparciatas) treinavam de maneira forte tanto a luta armada como a desarmada.
Em se tratando de luta desarmada, no ambiente helênico desenvolveu-se a arte marcial do
pancrácio, que teria surgido por volta do século VII
AEC
ou antes e cujo arcabouço técnico englobaria os mais variados
movimentos e golpes, desde socos a estrangulamentos. Como esporte
sabe-se ter feito parte dos Jogos Olímpicos naquela época.
[5]
Caminhando já na
Ásia, onde se acredita ser o berço das artes marciais modernas, sabe-se que o
exército de
Alexandre, o Grande enfrentou guerreiros de várias origens, como de
China e
Índia.
É impossível creditar o desenvolvimento das artes marciais asiáticas ao
contacto com o gregos, pois logicamente existiam já naquelas paragens
suas próprias disciplinas, tanto é que se deu enfrentamento entre
exércitos e não de um exército e pessoas desarmadas, mas houve certa
troca de conhecimentos, o que era inevitável, após a estabilização das
relações. De qualquer forma, havia na Índia uma forma de luta chamada de
Vajramushti.
[6][7]
De facto (alguns ainda dizem tratar-se mais de especulações,
posto não existirem fontes documentais, ou mesmo as que existem
tratar-se-iam de relatos de lendas ou estórias), as artes marciais
passaram a ter caracteres mais formais quando um
monge budista indiano chamado
Bodhidharma — o primeiro grande mestre —, por volta do ano
520 EC,
no fito de empreender uma longa jornada em busca da iluminação
espiritual, viajou desde a Índia até a China. O monge ficava onde lhe
dessem abrigo, em
templos ou casas, e aproveitava para evangelizar de acordo com sua doutrina.
[8]
Sua jornada o teria levado até o
Templo Shaolin
e, quando Bodhidharma viu as condições físicas precárias em que se
encontravam os monges daquele sítio, exortou-os no sentido que a pessoa
deveria evoluir por completo, desenvolvendo o lado espiritual pero sem
olvidar do físico, pelo que instruiu todos na prática de exercícios.
[9]
A prática dos exercícios evoluiu para um sistema de
defesa pessoal, até com o uso de armas e outros instrumentos, fazendo surgir uma reputação de que os monges
lutadores
seriam expertos em diversas modalidades e formas de combate, pelo que
se difundiu por toda a China. Os monges de Shaolin não se isolaram
apenas na China e levaram seus conhecimentos religiosos, filosóficos e
marciais para outros recantos, entre estes o Japão.
Japão
O
arquipélago de
Oquinaua (沖縄 Okinawa?) localiza-se quase que exatamente a meio caminho entre
Japão e
China, no
Mar da China Oriental. Por causa de sua posição geográfica, a região sempre despertou a
cupidez
dos dois países, os quais não pouparam esforços para estenderem suas
influências (culturais e econômicas), tornando a existência de um
governo local submetida à conjugação de interesses e política externos. A
influência chinesa era considerável, e alguns praticantes de artes
marciais oriundos daquele país chegaram a Oquinaua.
[9]
Apesar da circunstância de gravitar em torno da influência sino-japonesa, sucedeu na história de Oquinaua, entre
1322 e
1429, um período denominado de
Sanzan-jidai (
三山時代, período dos três montes) quando que se debateram os três reinos de
Hokuzan (
北山, Monte Setentrional),
Chuzan (
中山, Monte Central) e
Nanzan (
南山, Monte Meridional) pelo controle da região. Tal período acabou com a unificação sob a bandeira do
reino de
Ryukyu e sob o comando de
Chuzan, que era o mais forte economicamente, inaugurando a primeira
dinastia Sho:
Sho Hashi.
Nessa época, influência chinesa consolidou-se como a preponderante das
duas e isso se refletiu na estrutura administrativa do reino e noutros
aspectos culturais.
[10]
Entrementes, após a unificação e no fito de conter eventuais sentimentos de revolta, el-Rei
Sho Hashi
promulgou um édito que tornou proibido o porte de quaisquer armas por
parte da população civil. Este facto é considerado o marco principal do
processo evolutivo que veio a culminar no caratê. Já existia em
Oquinaua
uma arte marcial própria, porém a medida régia impôs um ritmo
diferente, pelo que, devido à necessidade de as pessoas terem uma forma
de defesa e em razão da proibição real, aquelas técnicas foram-se
aperfeiçoando, precipuamente nas camadas mais pobres da população, que
sobreviviam de atividades agrícolas e de
pesca, haja vista que as classes de
nobres (
guerreiros), tal e qual sucedia em China e Japão, tinham suas próprias disciplinas de combate.
Fruto também da proibição do porte de armas foi o desenvolvimento do
kobudo, outra arte marcial oquinauense que transformou o uso de objectos do cotidiano em armas, como a
tonfa e o
nunchaku, que eram originalmente instrumentos de trabalho, para manuseio de
moinho e debulhagem de
arroz.
[11]
A sociedade japonesa, possuindo uma classe guerreira, era há muito
conhecedora de disciplinas de combates com e sem armas. No seio das
famílias e/ou clãs fomentaram-se formas de combate, os chamados
koryu,
que eram transmitidos somente internamente. Entretanto, o que importa é
que houve certa troca de conhecimentos, posto que muito velada, e que
essas artes evoluíram para atender exatamente às necessidades do grupos
que as usavam.
O que viria a ser o
jiu-jitsu
surgiu para capacitar o samurai para a luta desarmada mas usando
armadura, pelo que não era racional utilizar ostensivamente de pontapés e
socos mas mais projeções e estrangulamentos. Por seu turno, o que se
desenvolveu em Ryukyu visava justamente o combate desarmado, sem trajo
específico, mas eventualmente enfrentando guerreiros com armadura, pelo
que socos e pontapés eram mais interessantes, isso aliado ao
condicionamento de mãos e pés para serem instrumentos de ataques
fulminantes.
A independência do reino de
Ryukyu sofreu duro golpe quando, em
1609, o
clã samurai de
Satsuma, com aprovação do
imperador do Japão, subjugou o
arquipélago.
Por ocasião da invasão, os samurais encontraram pouco ou nenhum revide,
porque, dadas as circunstâncias, el-Rei declarou que a vida é o mais
importante tesouro e recomendou que a população das ilhas não revidasse à
agressão estrangeira. Oquinaua passou a ser um
estado tributário
de Japão e China, mas, contrário ao cenário anterior, com predomínio
nipônico, que expôs a cultura local e influenciou sobremaneira o
desenvolvimento das artes marciais, sob os valores da classe guerreira.
Naquele momento, o clã Satsuma introduziu sua própria disciplina, o
jigen-ryu.
Arte das mãos oquinauenses
Em meados do
século XVII, a arte marcial oquinauense
[c] sem armas já era estabelecida, sendo conhecida por «tê» (
手 ou
ティー, em
japonês:
te, em
oquinauense:
ti).
[12] Também é referida como mão de Oquinaua (
沖縄手, em
japonês:
Okinawa-te, em
oquinauense:
Uchinaadi), quando surge a figura de
Matsu Higa, renomado mestre de
te e
kobudo e também experto em
chuan fa, que teria aprendido com mestres chineses.
[13] Mas já nesse tempo, a arte marcial já vinha evoluindo em três formas distintas, radicadas nas três cidades que as nomearam,
Naha-te,
Tomari-te e
Shuri-te.
Acredita-se que
Sensei Higa tenha sido, dentro de seu estilo próprio, o primeiro a estabelecer um conjunto formal de técnicas e chamá-lo de
te.
[13]
Destacaram-se mais os estilos de
Shuri, por ser a
capital, e de
Naha,
por ser cidade portuária e mais importante entreposto comercial.
Entretanto, posto que tivesse menor relevo no cenário da época, por ser
mormente uma cidade de trabalhadores,
pescadores e campesinos,
Tomari,
devido a exatamente suas características, desenvolveu o estilo peculiar
e muitas vezes erradamente confundido com o estilo de Shuri. Ademais,
em que pese cada um das cidades ter seu estilo, elas compartilhavam
informações e praticantes.
[14]
Na linhagem do estilo
shuri-te,
caracterizado pelas posturas corporais naturais e por movimentos
lineares de deslocamento e de golpes, seguiram-se a Sensei Higa, mais ou
menos numa linha de instrutor e aprendiz, os mestres
Peichin Takahara,
Kanga Sakukawa e
Sokon Matsumura.
[15]
Com mestre Takahara
[d], já por influência japonesa, o
te vem a receber os três princípios que culminariam com a transformação da técnica numa disciplina muito maior já na transição do
século XIX para o
século XX.
Ainda no
século XVII, o
te sofria fortes influências desde a
China. Mestre Sakukawa, por sugestão de
Peichin Takahara, foi aprender com o chinês
Kushanku — mestre de
chuan fa
— e, depois, diretamente no continente. Tais características não
passaram despercebidas e calharam em que a arte marcial passou a se
chamar
Tode ou
Todi (
唐手 ou
トゥデ, mão chinesa)
[e], ou ainda
Toshukuken (
徒手空拳) e
Toshu-jitsu (
徒手術).
[16]
Enquanto isso, em Tomari, seu estilo adquiria uma característica mais acrobática.
[17] Os principais expoentes da região foram os mestres
Karyu Uku e
Kishin Teryua, que deixariam por legado a
Kosaku Matsumora e, em Naha, o
te
evoluia numa direção diversa, com movimento de extrema contração,
golpes de curto alcance e condicionamento do corpo para absorção de
golpes, tudo conjugado a técnicas de respiração:
ibuki.
[18][19]
Sob o ministério de
Sokon Matsumura, o
tode passou a ter um treinamento mais formalizado com a compilação de uma série mais ou menos fechada de
katas e, principalmente, rompeu-se a barreira das
classes sociais. Com Matsumura, que fazia parte da
elite guerreira e da corte de el-Rei
Sho Ko e sucessores, o
tode, praticado mormente pelas classes trabalhadoras, passou a ser uma arte militar reconhecida.
[20]
Por essa época, ficaram famosos, e quase lendários, os contos sobre as
proezas dos artistas marciais de
Oquinaua, como a do mestre de
Tomari-te,
Kosaku Matsumora, que desarmado derrotou um
samurai. Assim, o
te era conhecido também por
shimpi tode (
神秘 唐手, misteriosa mão chinesa) ou
reimyo tode (
霊妙 唐手, etérea/miraculosa mão chinesa).
[13]
Arte das mãos vazias
No fim do século XIX, o caratê ainda era marcado de modo forte por
quem o ensinava, não havia, posto que houvesse similitudes entre as
técnicas, um padrão, o que dificultava sua maior aceitação fora de
círculos restritos, porque era praticado e ensinado num rígido esquema
de mestre/aluno.
[21]
Nesse meio tempo, sobreveio a final anexação de
Ryukyu, em
1875, tornando-se a província de Oquinaua.
[22]
Todavia, o que poderia ser o fim tornou-se uma oportunidade, pois
terminou com o isolamento da população do arquipélago, incorporados de
vez à população nipônica. E coube a
Anko Itosu, um discípulo de Matsumura e secretário do rei de Oquinaua, usar de sua influência para tentar disseminar a arte marcial.
O mestre via o
te não somente como arte marcial mas, principalmente, como uma forma de desenvolver
caráter, disciplina e físico das
crianças. Ainda assim, o mestre julgava que os métodos utilizados até a época não eram práticos: o
te era ensinado basicamente por intermédio do treino repetitivo dos
kata. Então, Itosu simplificou o treino a unidades fundamentais, os
kihons, que são as técnicas compreendidas em si mesmas, um
soco, uma
esquiva, uma
base, e, além, compilou a série de katas
Pinan com técnicas mais simples e que passariam a formar o
currículo
introdutório. A mudança resultou na diminuição, supressão em alguns
casos, de táticas de luta, mas reforçou o caráter esportivo, para
benefício da
saúde: deu-se relevo a postura, mobilidade, flexibilidade, tensão,
respiração e relaxamento.
Atribui-se ao mestre Itosu a mudança de denominação para
karate (
空手,
mãos vazias), como forma de vencer as barreiras culturais, as
resistências para aceitação, pois como algo com origem chinesa não era
visto com bons olhos, ademais porque havia tensões latentes entres os
dois países.
Em
1900, aconteceu uma grande
emigração desde Oquinaua até o
Havaí, resultando na primeira mostra do caratê a ocidentais, eis que o Havaí tinha sido anexado pelos
EE.UU. havia aproximadamente dois anos.
O caratê tornou-se
esporte oficial em
1902.
Evento dramático no desenvolvimento do caratê que é o ponto em que se
aperfeiçoa a transição de arte marcial para disciplina física, deixando
ser visto apenas como meio de
autodefesa.
[21]
Como resultado de seu progresso, Anko Itosu crê ser possível exportar o caratê para o resto do Japão e, em começos do
século XX, passa a empreender esforços para tanto, mas não consegue lograr sucesso.
Paralelos a esses eventos, outro influente mestre,
Kanryo Higashionna,
promovia por si outras mudanças. Ele desenvolvia um estilo peculiar que
mesclava técnicas suaves, evasivas e defensivas (como esquivas e
projeções), e menos as rígidas, e tinha como discípulos
Chojun Miyagi e
Kenwa Mabuni.
A exemplo de Itosu, Higashionna conseguiu fomentar os valores neles que
levaram até as mudanças futuras que tornariam o caratê mais aceitável.
[2]
Em que pesem a evolução que arte estava experimentando e havendo a
fama de ser um estilo de luta eficaz, fama essa que já havia muito
corria pelo Japão, ainda era pouco conhecida. Não se sabia realmente
muito sobre suas características, fora os praticantes oquinauenses e
alguns poucos fora desse círculo ainda fechado.
Alguns fatores contribuíram, entretanto, para a divulgação do caratê.
Um desses fatores era a mentalidade corrente à época que, mesmo com o
processo de disseminação dos costumes ocidentais iniciado com a
Restauração Meiji, ainda era muito apegada à figura do guerreiro, não
sendo incomum o lance de desafios a lutadores proeminentes ou mesmo a
uma casa, família ou paragem. Não se pode olvidar, contudo, que isso não
se deva por bravata mas por orgulho, de suas tradições e para
homenagear seus mestres, resguardando-se a honra (no mor das vezes). Era
comum a prática do
dojo yaburi (desafio ao
dojô).
Certa altura, por volta de
1906 chegou a Oquinaua uma praticante de
jujutsu
(ou de judô, segundo algumas fontes) que desafiou a todos da ilha a
medir forças com ele, para provar que seu estilo de jiu-jitsu era
superior aos do Japão e da região. No dia aprazado, posto que fosse já
provecto (na casa dos setenta anos), no meio de vários lutadores, o
mestre Itosu não quis deixar sem resposta o convite e foi ter com o
desafiante, que interpelou o mestre, dizendo "que honra haveria de
ganhar de um idoso?", mas aquiesceu ao embate, por respeito ao nobre
ancião. A luta foi decidida com apenas um golpe.
[23]
Marcante e decisivo, entretanto, foi um desafio que mestre
Choki Motobu protagonizou. Chegou ao Japão um navio russo, conduzindo um lutador de
sambo
(Jon Kirter), com porte físico avantajado (quase 2m de altura) e capaz
de cravar um prego na madeira co'as mãos. O fito daquele lutador era
divulgar sua modalidade de luta e, para tanto, além das demonstrações
públicas, que envolviam proezas, como enrolar uma barra de ferro nos
braços e quebramentos, foi lançado um desafio a todo o país.
A nova correu até Oquinaua, sendo o desafio aceito pelos irmão
Motobu, descendentes da casa real e notórios expertos em artes marciais,
além do caratê,
kobudo e
gotende. Dirigiram-se eles até o Japão. No dia da luta, tudo certo o embate foi decidido com apenas um golpe na região do
plexo solar. A vitória foi considerada tão surpreendente que criou alvoroço e despertou de vez o interesse pelo caratê.
[24]
Caminho das mãos vazias
-
Os esforços de Itosu, a despeito de não gerarem os efeitos almejados,
frutificaram nas mãos de seus alunos. Por exemplo, o Mestre
Kenwa Mabuni, como forma de tributo, sistematizou todos os ensinamentos aprendidos no estilo
Shito-ryu, que pretende fundir os estilos
Shuri-te e
Naha-te e com isso veio a preservar muitas variações de
kata; o Mestre
Choshin Chibana, por seu turno, compilou seu conhecimento no estilo
Kobayashi-ryu, pretendendo preservar as exatas formas por ele aprendidas de Matsumura e Itosu.
[25]
Entretanto, aproveitando o interesse no caratê, principalmente depois
da vitória do mestre Choki Motobu sobre o lutador russo, coube a
Gichin Funakoshi
lograr grande êxito no objetivo do mestre Itosu, isto é, difundir o
caratê como desporto e nativo da cultura japonesa. Sem olvidar da
empresa de outros grandes mestres, como
Mabuni,
Miyagi,
Motobu etc., Funakoshi logrou êxito em difundir o caratê pelo
arquipélago japonês. As técnicas do estilo iniciado por Funakoshi
baseiam-se no caratê de Itosu, mas dando mais ênfase ao aspecto
formativo da
personalidade, característica que ficou impressa nas demais linhagens surgidas naquele momento.
A divulgação não aconteceu sem resistência. A despeito de vários
pedidos para a não exibição de vários mestres que não viam com bons
olhos o movimento, Funakoshi levou o caratê até o sistema público de
ensino, com a ajuda de seu mestre Anko Itosu e, em pouco tempo, a arte
marcial já fazia parte do
currículo
escolar como disciplina física/esportiva, dando um impulso
extraordinária, com o caratê sendo praticado em vários sítios e sendo
bastante apreciado e valorizado localmente.
Entre
1902 e
1915, Sensei Funakoshi viajou com seus melhores alunos por toda
Oquinaua
realizando demonstrações públicas de caratê e calhou de o inspetor de
Educação da "nova" prefeitura, Shintaro Ogawa, estava particularmente
interessado no processo seletivo para ingresso nas
forças armadas, preocupado em obter um bom grupo, composto por jovens de boa índoles (
valores) e boa compleição. Ogawa ficou impressionado, que escreveu ao continente dando as novas.
[21]
Sucedeu de o
Almirante Rokuro Yashiro assistir a uma daquelas demonstrações, explicadas por Funakoshi, enquanto seus alunos executavam
kata,
quebravam telhas e faziam outras proezas, que expunham a eficácia do
condicionamento físico. O almirante ficou muito impressionado e ordenou
que seus homens que iniciassem o treinamento de imediato. Sucedeu também
de, em
1912,
o comando Almirante Dewa escolher doze de seus homens para treinarem
caratê por uma semana, enquanto estivessem ancorados nas imediações. As
novas levadas por esses dois oficiais levaram o caratê a ser mais
comentado no Japão.
[21]
E no desenrolar dos acontecimentos, calhou de, em
1921, o então príncipe herdeiro e futuro imperador
Hirohito assistir a uma dessas demonstrações, pelo que ficou admirado e pediu a feitura de um evento nacional em Tóquio, realizado em
1922.
O evento foi muito bem sucedido e ocasionou de o mestre Funakoshi ser
coberto de convites para apresentar sua arte e um desses convites foi
feito por
Jigoro Kano, para ser feito no instituto
Kodokan.
Durante o evento, que levantou a plateia, mestre Funakoshi foi
convencido a permanecer no Japão e, com a ajuda de Jigoro Kano, de que
se tornou amigo íntimo, o caratê foi difundido.
O mestre sabia que haveria de surgir enorme oposição, haja vista que
naquele período da história das relações entre Japão e China não era dos
melhores. Ainda era muito recente a lembrança da
Primeira Guerra Sino-Japonesa (
1894-
1895). E até o fim da
Segunda Guerra Mundial e da
Segunda Guerra Sino-Japonesa, com a
rendição do Japão perante os
Aliados, ocorreram vários incidentes belicosos.
[26]
Tais circunstâncias levavam à conclusão de que uma
arte marcial de origem chinesa seria certamente repudiada, pelo que a mudança da arte para o
karate-dō (
空手道, caminho das mãos vazias), isto é, com o acréscimo do sufixo "dō", como se deu com muitas das artes marciais praticadas no
Japão. A partícula
do significa caminho, palavra que é análoga ao familiar conceito de
tao.
[27] Daí que o caratê deixou de ser encarado apenas em seu aspecto técnico, ou
jutsu, para serem realçados o filosófico e o físico (educacional).
Por outro lado, o caratê beneficiou-se de uma perspectiva que existia, a de que a luta nativa de Oquinaua, aí incluso o seu
kobudo (manipulação de armas), era simplesmente uma forma de
jujutsu ou
koryu. Assim se pensava porque tanto os vários estilos de
jujutsu (
takenouchi-ryu,
daito-ryu
etc.) japoneses quanto o oquinauense valiam-se das mesmas formas
técnicas (luta desarmada, principalmente), diferenciando-se apenas no
foco e no treinamento, ou seja, nada de estranho, se comparado à
tradição samurai. Denominava-se o caratê de
tejutsu, o que reforçava esse aspecto.
[28]
Mestres de caratê na década de 1930
Entrementes, a proposição de Mestre Itosu, pela escrita do nome da arte marcial como
kara-te-dō foi objecto de debate em
1933,
e o mestres na época acordaram que seria a melhor escolha, o que
reflectira a unidade do caratê e sua originalidade, posto que houvesse
sofrido diversas influências alienígenas.
Do modo como se desenvolveu, um elemento da cultura japonesa, o caratê está imbuído de certos elementos do
Zen-budismo,
sendo que sua prática algumas vezes é chamada de "zen em movimento". As
aulas frequentemente começam e terminam com curtos períodos de
meditação. Também a repetição de movimentos, como a executada no
kata, é consistente com a meditação zen pretendendo maximizar o
autocontrole, a atenção, a força e velocidade, mesmo em condições adversas. A influência do
zen nesta arte marcial depende muito da interpretação de cada instrutor.
Devido aos esforços de Funakoshi o caratê passou a ser ensinado nas
universidades de Shoka, Takushoku, Waseda e Faculdade de Medicina.
A modernização e sistematização do caratê no Japão também incluiu a adoção do uniforme branco (
quimono ou
karategi) e de
faixas coloridas indicadoras do estágio alcançado pelo aluno, ambos criados e popularizados por
Jigoro Kano, fundador do
judô.
As contribuições de Jigoro Kano não se limitam ao uniforme de
treinamento e à padronização das graduações, mas vão até a técnicas, que
foram compiladas dentro do estilo
Shotokan. O conceito de
do, posto que presente há muito, foi de certa forma reinterpretado segundo suas ideias.
Depois que Funakoshi demonstrou o caratê, outros mestres de Oquinaua
seguiram pela mesma trilha e se foram, no fito de conseguir novos alunos
e divulgar ainda mais. Um daqueles mestres era
Kenwa Mabuni, que se fixou em
Osaca e, no ano de
1931, criou a
Dai-Nihon Karate-do Kai, para dar apoio a seu estilo, que foi registrado, primeiro como
Hanko-ryu, e, depois,
Shito-ryu.
Entrementes, somente durante a
década de 1930 foi que a Associação Japonesa de Artes Marciais,
Butoku-kai,
reconheceu oficialmente o caratê como arte marcial nipônica e requereu
que todas as escolas fizessem registro na entidade, exigindo para esse
registro que cada uma delas indicasse os nomes de seus estilos.
[29]
Em maio de
1949, alguns discípulos de Funakoshi criaram uma associação cujo escopo principal seria a promoção do caratê. O nome dado foi
Nihon Karate Kyokai (
日本 空手 協会, (
Japan Karate Association - JKA, Associação Japonesa de Caratê), e o primeiro presidente foi Saigo Kichinosuke, membro da
Câmara Alta do Japão,
neto de
Saigo Takamori, um dos maiores heróis do Japão
Meiji.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o caratê tornou-se popular na
Coreia do Sul sob os nomes
tangsudo ou
kongsudo quando a pratica do
taekwondo foi proibida pelos japoneses após sua invasão.
Após a
Segunda Guerra Mundial,
o mestre Funakoshi com seus alunos conseguiram que o Ministério da
Educação classificasse o caratê como educação física e não como arte
marcial, tornando possível seu ensino, durante a ocupação do Japão.
Depois dos
EE.UU. o caratê foi difundido pela
Europa e o mundo.
[30]
Atualidades
Posto que mestre Funakoshi pregasse que o caratê era uma
arte marcial
única, que as variações nas formas, nos estilos, deviam-se
precipuamente às idiossincrasias e que jamais denominou sua linhagem de
estilo, ainda durante sua existência e persistindo até os dias atuais, o
que sucedeu foi uma proliferação de estilos, escolas e linhagens
diferentes.
A grande variedade de estilos e escolas, se por um lado facilita essa
disseminação, por outro, causou enormes dissensões e cisões entre
entidades e representantes. Muitas vezes, o que motivou a cisão foram
disputas
políticas e/ou
ideológicas.
[31]
Depois de criada por discípulos de Funakoshi, a quem aclamaram como líder, em
10 de abril de
1957, a JKA ganhou a condição de entidade oficial, mas, cerca de duas semanas depois, o grande mestre faleceu com a idade de 89.
Olimpíadas
Em
19 de junho de
1999, depois de muitos anos e muitos episódios marcados pela discórdia, na 109ª Sessão do Comitê Olímpico Internacional -
COI, confirmou-se o reconhecimento da
Federação Mundial de Caratê (World Karate Federation -
WKF, em
inglês)
como o ente governativo do caratê mundial, o que significava o também
reconhecimento do esporte como esporte candidato a figurar nos
Jogos Olímpicos de Atenas, em
2004, como esporte de demonstração, cuja confirmação dar-se-ia na 111ª Sessão do Comitê, para o ano seguinte.
[4]
O COI estabelece dois
parâmetros
para a aceitação de um esporte como olímpico: ser praticado em muitos
países (membros) e ser representado por uma entidade mundialmente
reconhecida. Aparentemente, o caratê possui apenas um desses requisitos!
No Brasil
-
Da mesma forma como sucedeu com outras
artes marciais japonesas, o caratê foi introduzido no
Brasil com a chegada de
imigrantes japoneses no começo do
século XX. Mas somente no ano de
1956, o
sensei Mitsuke Harada (Shotokan) instala o primeiro
dojô em
São Paulo.
[32] A esse exemplo seguiram os mestres
Juichi Sagara (Shotokan), em
1957;
Seichi Akamine (Goju-ryu), em
1958;
Koji Takamatsu (Wado-ryu);
Takeo Suzuki (Wado-ryu);
Michizo Buyo (Wado-ryu);
Yoshihide Shinzato (Shorin-ryu); Takeda, Kimura e Fábio Sensei (Bushi Ryu), em
1992;
Akio Yokoyama (Kenyu-ryu), em
1965.
[33]
A prática da modalidade percebeu um aumento depois que participantes de competições de
artes marciais mistas lograram vitórias, como é o caso do carateca
Lyoto Machida.
[34]
Em Portugal
Em
Portugal, a arte marcial foi introduzida entre os anos de
1962 a
1964, quando se reuniu um grupo de pessoas que praticam a modalidade na Academia de Budo, em
Lisboa. Aquele grupo, entonces, organizou-se melhor e entabulou os primeiros contactos co'as entidades de âmbito mundial. E, na
década de 1970, com a criação de entidades representativas de alguns estilos.
[35][36] Em 1980, foi fundada a Associação Portuguesa de
Karate-Do. Depois, ou as entidades cresceram ou se fundiram.
[37]
Ética e filosofia
Além das mudanças para facilitar a divulgação do caratê, os mestres
do começo do século XX (mormente Funakoshi, que aproveitou também esse
aspecto da cultura japonesa, relevante naquele momento) foram eficazes
em imprimir solenidade aos treinamentos, respeito para com mestres,
instrutores e praticantes, de forma mútua, o que realça o carácter de
formação de bons indivíduos. Isto, contudo, sem olvidar que naturalmente
no processo de formação da arte marcial desenvolvia-se um paradigma
para as condutas dentre e fora do sítio de treino. Neste ambiente,
alguns dos mestres eram reconhecidos por sua moral e trabalhos nesse
sentido.
[38]
O treinamento tradicional de caratê deve começar e terminar com um breve momento de meditação,
mokuso, cuja finalidade é preparar o
carateca
para os ensinamentos que receberá e, depois, refletir sobre os mesmos. A
cada momento ou exercício faz-se saudação no começo e no fim, sendo
costume difundido em vários dojôs fazer uma reverência ao entrar e sair
do sítio.
Esse carácter mais abrangente do caratê é bem visível pela partícula "dō" (
道) de seu nome. Tais princípios, posto que a grande mudança filosófica ocorrida nas
artes marciais japonesas possa ser localizada na transição do
século XIX para o
XX, possuem suas raízes fincadas bem mais no passado.
Historicamente, foi o monge
Peichin Takahara
quem primeiro a descreve a filosofia do "dō", do caminho de evolução
que são as artes marciais, em sintonia com os ensinamentos do caratê.
Ainda no
século XVII, ele descreveu as três vertentes que, combinadas, culminam na evolução da pessoa:
ijo,
fo e
katsu.
[38]
- Ijo (径) pode ser expresso em atitudes pró-ativas em favor de terceiro. Também se diz que a forma ijo respousa na compaixão, humildade e no recato.
- Fo (则, princípio) é o compromisso, isto é, a dedicação que alguém tem para com algo; no caso, o afinco com que um carateca treina os conhecimentos ensinados, a seriedade e devoção que nutre, além, para com seu mestre e colegas.
- Katsu (奉, observância)
reflete-se no conhecimento, na compreensão que a arte marcial possui,
mas compreendida nos mínimos detalhes e em que momentos, da vida ou de
um enfrentamento real, farão sentido.
O conceito do caminho evolutivo que é a prática do caratê pode ser
achado em todas as artes marciais japonesas, tratando-se uma leitura
japonesa do
tao. Como caminho, por conseguinte, deve ser interpretado de forma bem abrangente, para a compreensão de um
ciclo de vida.
De outra forma, uma vez que o ciclo da vida é já um caminho
pré-determinado, um sistema no qual todas as formas e seres estão
inter-relacionados, mister haver a consciência de que existe uma relação
de interdependência de todas as coisas e situações: o aprendizado não
seria mérito pessoal mas o resultado da relação voluntária do praticante
com o ambiente e com todos os seres.
[39]
Nesta cércea, o caratê se insere como uma das disciplinas do
Bushido, o código de ética do
guerreiro.
Assim, o caratê é muito mais do que uma forma de luta (o "dō" rejeita
esta visão limitada), é um modo de vida. Os mestres prolataram um
conceito, o que de nesta arte marcial, além de não existir atitude
agressiva, em caso de embate, nunca o carateca faria o primeiro
movimento:
“ |
空手に先手無し
Karate ni sente nashi
No caratê não há primeiro movimento (ataque) |
” |
Sob duas ópticas capitais e pragmáticas, ressai o escopo pacífico da
modalidade. Primeiro, caso se enfrentem dois caratecas, nenhum deles
tomará atitude ofensiva, pelo que o combate nunca existirá. Depois, caso
o enfrentamento se desse contra alguém que não é um carateca, com a
atitude pacífica ou desestimularia o ataque ou, se esse existir,
poder-se-ia usar da energia despendida pelo contendor para resolver a
demanda. Trata-se destarte de uma abordagem complementar à do
shinbu.
[40]
Dojo kun
-
A par dos princípios básicos elencados e tendo em foco o
Bushido, o mestre
Kanga Sakukawa elaborou um
código, o
Dojo kun, para servir de norte à prática do caratê.
[41] Tal código é composto por cinco regras:
“ |
- Esforçar-se para a formação do caráter.
- Fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão.
- Criar o intuito do esforço.
- Respeito acima de tudo.
- Conter o espírito de agressão.
|
” |
Tode jukun
-
Sensei
Anko Itosu,
quando se dirigiu aos administradores japoneses, no fito de divulgar o
caratê por todo o Japão, referiu-se à sua arte marcial em forma de
princípios que poderiam ser facilmente compreendidos. Assim, tal
conjunto de princípios ficou conhecido como
Tode jukun, ou os Dez Princípios do Tode.
[42]
“ |
- O caratê não é praticado apenas para o benefício individual, pode ser usado para proteger sua família e seu mestre...
- O propósito do caratê é tornar os músculos e ossos duros como rochas e usar as mãos e pernas como lanças…
- O caratê não pode ser aprendido rapidamente…
- Em caratê, treinamento das mãos e dos pés é importante...
- Quando praticar as bases do caratê certifique-se de manter as costas eretas...
- Pratique cada uma das técnicas do caratê repetidamente...
- Vós deveis decidir se o caratê é para saúde ou para auxiliar nos deveres.
- Quando treinar, faça como se estivesse no campo de batalha...
- Se se usar excessivamente sua força no treinamento de caratê isso irá causar a perda de energia..
- [...] O caratê auxilia no desenvolvimento de ossos e músculos. Ajuda tanto na digestão quanto na circulação…
|
” |
Niju kun
-
Imbuído pelo conceito do "dô" e a exemplo do que fizeram os mestres
do passado, em particular, seu instrutor directo, mestre Sakukawa,
Gichin Funakoshi elaborou um código ético,
Niju kun, o qual seria difundido em sua escola, mas se acabou por espraiar-se por outros
dojôs. O nome significa literalmente as vinte regras:
“ |
- ...o caratê deve iniciar com saudação e terminar com saudação.
- No caratê não existe atitude ofensiva.
- O caratê é um apoio da justiça.
- Conheça a si próprio antes de julgar os outros.
- O espírito é mais importante do que a técnica.
- Evitar o descontrole do equilíbrio mental.
- Os infortúnios são causados pela negligência.
- O caratê não se limita apenas à academia.
- O aprendizado do caratê deve ser perseguido durante toda a vida.
- O caratê dará frutos quando associado à vida cotidiana.
- O caratê é como água quente. Se não receber calor constantemente, esfria.
- Não pense em vencer, pense em não ser vencido.
- Mude de atitude conforme o adversário.
- A luta depende de como se usam os pontos fracos e fortes.
- Imagine que os membros de seus adversários são como espadas.
- Para cada homem que sai do seu portão, existem milhões de adversários.
- No início, os movimentos são artificiais, mas com a evolução tornam-se naturais.
- O treino das técnicas deve ser de acordo com o movimento correto, pero na aplicação torna-se diferente.
- Não se esqueça de aplicar corretamente...
- Estudar, praticar e aperfeiçoar-se sempre.
|
” |
Estilos
-
A despeito do que preconizavam os grandes mestres, hodiernamente, há
na seara do caratê um grande número de divisões, sendo as mais
conhecidas os estilos, e reconhecidos pela
Federação Mundial de Caratê,
Shito-ryu,
Shotokan,
Goju-ryu e
Wado-ryu. Todos eles criados na primeira metade do século XX. Reconhecidos pela
WUKF, há os estilos
Shorin-ryu,
Uechi-ryu,
Kyokushin e
Budokan, além dos reconhecidos pela WKF.
[43]
Há, contudo, muitos outros estilos, como maior ou menor renome, como
Shindo jinen ryu,
Seiwakai,
Shudokan,
Toon-ryu,
Chito-ryu,
Kenyu-ryu,
Isshin-ryu etc. Há ainda alguns estilos que nada mais são do que visões mais tradicionalistas ou ortodoxas de um estilo, como é o caso do
Shotokai,
que propala estar verdadeiramente conectado à escola criada pelo mestre
Funakoshi; aqueles que são uma visão particular e/ou moderna, como o
Gosoku-ryu, que é uma recopilação baseada no Shotokan; ou estilos que são compilações de outros estilos, como o
Kata shubu do ryu.
Subdivisões
Em termos de artes marciais, há que se notar que a palavra «escola»
não tem o mesmo sentido empregado no uso comum. O caratê é uma arte
marcial que se subdivide em diversos estilos, o Shorin-ryu sendo um dos
mais antigos entre eles. Cada estilo, identificados geralmente pela
partícula
ryu (流 ryũ?, fluxo),
é uma forma distinta de se praticar uma determinada arte marcial. Nesse
sentido, membros de estilos diferentes terão nomes diferentes para
golpes semelhantes,
kata e
kihon
próprios, diferentes progressões de faixa, ou nível, e até mesmo
metodologias de ensino variadas. O que une os diferentes estilos é a
consciência de que são como
galhos de uma mesma
árvore, no caso a arte marcial em questão.
[44]
As escolas,
kan (館? edifício, casa),
por sua vez, são visões particulares de um determinado estilo. Muitas
vezes elas se originam como tributos a mestres muito graduados e,
algumas vezes, acabam se transformando em estilos propriamente ditos,
como foi o caso do estilo
Shotokan,
que deve ser mais corretamente chamado de Shotokan-ryu (uma vez que
Shotokan seria a Escola de Shoto e Shotokan-ryu seria o Estilo da Escola
de Shoto). Uma "escola", nesta cércea, não é, portanto, um local de
aprendizado de técnica, mas um conjunto de ideias dentro de um estilo.
[45]
Outra subdivisão pode se dar com o surgimento de uma linhagem, marcada com a adição do sufixo
ha (派? facção, escola, seita),
que, semelhante às escolas, imprimem uma visão particular de um estilo
ou de uma escola. Nessa leva, existem as linhagens, por exemplo,
Hayashi-ha,
Motobu-ha e
Inoue-ha, do estilo
Shito-ryu;
Goju-kai e
Seigokan, do estilo
Goju-ryu; ou
Shobayashi-ryu,
Matsubayashi-ryu e
Kobayashi-ryu, do estilo
Shorin-ryu.
[45]
Nota-se, portanto, que não existe um padrão ou uma norma para definir
os nomes dos estilos e suas respectivas ramificações. E divergências de
entendimento são naturalmente esperadas, pelo que variações de uma
mesma forma não seria algo insólito e nem as pessoas terem por
desiderato trilhar caminhos distintos, porém dever-se-ia restar cônscio
da origem comum.
[46]
Os mestres tradicionais pensavam que qualquer arte marcial deveria
ser assemelhada a um flúmen, isto é, fluente e flexível. De outro modo,
uma arte marcial deveria ser o resultado dum constante processo de
aprimoramento individual, pelo qual o
budoca
adaptar-se-ia conforme os conhecimentos adquiridos e nunca seria
idêntica, posto que duas pessoas praticassem a mesma, por igual período e
com um só mestre, pois as pessoas não são iguais. Assim sendo, não
haveria razão para existirem diversos estilos.
[47]
Os locais de aprendizado são chamados de
dojôs, sendo estes, via de regra, filiados a alguma ramificação.
Técnicas
-
Currículo
O repertório técnico do caratê está dividido, de modo básico, em dois grandes grupos
go waza (剛 技 técnicas rígidas?) e
ju waza (柔技 técnicas suaves?),
que compreendem respectivamente os golpes de impacto e os de controle.
Sendo que isso não tem nenhuma relação com estilo ou mesmo a denominação
deste, são dois aspectos presentes em qualquer sodalício ou modo de se
ensinar/aprender a modalidade.
[48]
As técnicas rígidas englobam todas aquelas golpes e movimentos em que
há explosão de energia, promoção ou absorção de impacto, daí seu nome
(saltos, socos, chutes e pancadas). A sua contrapartida são as técnicas
suaves, ou aquelas nas quais visa-se mormente o controlo da energia da
luta e da do adversário contra si mesmo e controlo dele
de per se (projeções, caimentos, imobilizações e luxações).
[2]
Além da divisão conforme a natureza do movimento, pode-se dividir as técnicas do caratê em dois grandes grupos,
te waza (手 技 técnicas manuais?) e
soku waza (足 技 técnicas podais?), e um grupo menor,
atama waza (頭 技 técnicas capitais?).
[49] E, bem assim, em
uke waza (受け 技 técnicas de defesa?) e
kogeki waza (攻撃 技 técnicas de ataque?).
Os vários grupos e subgrupos tendem a misturar-se, exibindo a noção de
que uma técnica pode ter variados fitos, ou seja, um mesmo movimento ou
golpe pode ser usado tanto como defesa como ataque, o que vai realmente
prover uma diferenciação mais objetiva não exatamente o golpe em si mas o
binômio de cenário de enfrentamento e intento.
[50]
Daí que nas técnicas manuais incluem-se defesas, ataques, projeções,
imobilizações. E isso também é verdade quando se focam os movimentos
feitos com os
pés.
[51]
Um caractere importante é o manejo do
ki, da energia: o
carateca deveria executar todas as técnicas parecendo um
flúmen. Sob a
umbrela desse conceito, o
ki fluiria livremente.
[52]
Didáctica
Todo estilo de caratê baseia seu ensino em três categorias técnicas:
kihon,
kata e
kumite.
Como a modalidade é, antes de tudo, uma arte marcial, exige-se de seu
adepto que pratique os exercícios com dedicação e empenho similares a
estar num campo de batalha: a mente deve estar focada no exercício, de
molde a absorver o movimento/conceito na sua inteireza. Essa atitude é,
em verdade, esperada do carateca perante quaisquer situações do
cotidiano, eis que o caratê é concebido como uma disciplina marcial
ética (
budo).
Tradicionalmente, pelo menos até as mudanças promovidas por
Anko Itosu, a forma de ensinar caratê era com base no estudo dos
katas.
[15] Grosso modo, quando se dizia que o mestre tinha transmitido todo o seu conhecimento, significava que ele tinha ensinado todos os
katas que sabia, aí inseridos todos os aspectos. Não se praticava a luta —
kumite
— porque o entendimento da época era que o caratê era mortal e,
portanto, insuscetível de ser praticado em luta, posto que combinada.
Ou, quando era praticado, as lutas eram parte mínima dos exercícios.
[14]
Essa ideia foi paulatinamente sendo cambiada. Ainda assim, as escolas
tradicionais transmitem a arte marcial precipuamente com base no
aprendizado do
kata.
Acontece, porém, que tal metodologia não é eficaz quando se trata de
crianças, mormente, como notou mestre
Anko Itosu ainda no século XIX.
[53] Foi então que ele particionou os
katas nas técnicas fundamentais e criou os
kihons. Da mesma forma, compreendeu-se que a simulação da luta (que o
kata pretende ser) deveria ser praticada, pois já coloca o
carateca
em situação de enfrentamento e o prepara de modo mais eficaz. Destarte
foi que surgiu o trinômio em que o caratê hodierno se lastreia.
Kihon
-
Ver artigo principal: Kihon
Kihon (基本?) significa "fundação" ou "fonte" e, nesta
lógica, quer dar sustento ao desenvolvimento do caratê de forma perene e
propedêutica. Um
kihon é uma técnica básica, um
soco, uma
defesa, uma
postura, que é repetida pelo praticante diversas vezes. O escopo é tornar o movimento tão natural que, quando for executado num
kata ou num
kumite, não haverá dificuldades e o aprendizado fluirá.
O estudo na forma de fundamentos consegue transmitir ao aluno a forma
básica, incumbindo ao professor conseguir transmitir não somente o
movimento em si mas toda a filosofia e os conceitos que estão por
detrás, porque de outra forma a essência do caratê inexoravelmente será
olvidada, deixando de ser "dô" para ser "jitsu". Noutras palavras,
técnica pela técnica, num movimento contrário ao deixado pelos mestres.
Por fim, a fixação do movimento por meio da repetição levará
eventualmente à compreensão maior de seu significado conquanto a energia
(
ki) do
golpe não será desperdiçada mas, antes de tudo, canalizada do modo mais
eficiente possível. Ou seja, visa-se o equilíbrio entre prática e
teoria.
Kata
-
Kata (型?) significa "forma" ou "modelo". Um
kata pretende ser uma luta simulada, formatada para que o
carateca
consiga praticar sozinho; são movimentos coreografados que visam dar
desenvoltura frente a situações reais de enfrentamento, contra um ou
vários adversários imaginários. A prática do
kata foi introduzida
desde cedo no caratê, quando a influência de mestres chineses se fez
peremptória, desde quando se tratava de luta tipicamente de Oquinaua (
Okinawa-te). Todavia, com a crescente influência dos estilos oriundos da China, a prática fixou-se de vez.
[15][16]
Há muitos katas e muitas variações de um mesmo
kata,
dependendo do estilo/escola e até de professor para professor,
refletindo diversos significados e as características desse
estilo/escola. Os significados e aplicações de um kata são dadas pelo
bunkai, ou aplicação. O escopo mor é preparar o praticante para a luta real: a finalidade é que o aluno aprenda profundamente os
kihon e, depois, perceba a aplicação
de facto das técnicas de
projeção,
controle,
chute e/ou
deslocamento etc. O kata é, portanto, o ponto que une as práticas de
kihon e
kumite.
[54]
Kumite
-
Kumite (組み手 ou 组手? mãos dadas)
representa uma luta, um combate. Seu nome, sendo traduzido como o
encontro das mãos, pretende fazer memento ao lutador que o embate
dar-se-á, pelo menos nos primeiros momentos, em condições de igualdade.
Por conseguinte, deve haver respeito.
Em princípio, as lutas eram proibidas e/ou desestimuladas, porque o caratê possui técnicas perigosamente mortais.
[27] Mas, quando o
kumite
foi incorporado ao treinamento, viu-se que deveria haver maior
controle, é que um aluno somente deveria treinar com luta depois de
conhecer bastante as técnicas dos
kihons e
katas, que são sua base. A despeito disso, existem algumas formas de
kumite, que seguem uma linha contínua de aumento de dificuldade, com mais até menos controle.
[21]
Por outro lado, a prática do
kumite como parte do treinamento,
além de promover a adaptação do praticante a situações de combate, tem
como fito precípuo a promoção do companheirismo, do compartilhamento de
informações, da ajuda mútua.
Ademais, quando o caratê passou pelas mudanças filosóficas que o
transformaram em caratê-dô, impregnou-se da ideia de que o carateca que
evolui sozinho praticamente não evolui, pois não se forma completamente,
com respeito a outrem e à coletividade. E isso, num hipotético combate,
fatalmente contribuiria de modo nefasto para um insucesso.
O mestre
Choki Motobu dizia que as técnicas aprendidas tornar-se-iam «vazias» caso não fossem postas em prática.
Graduação
-
Ver artigo principal: Dan,
Obi
-
O caratê, por meio de
Gichin Funakoshi, adoptou o sistema de
faixas coloridas, o qual era usado pelos praticantes de judô. Tal sistema foi sugerido por
Jigoro Kano,
pois, além de deixar claro o nível do praticante, estabeleceria um
«caminho» a ser percorrido, o que era uma ideia muito cara à filosofia
do
do/
tao.
Pero , a despeito da ideia original, cada estilo/escola passou a
estabelecer seus próprios graus e sequência de cores. Antes, porém,
muitos métodos distintos eram usados para marcar os vários níveis dos
praticantes. Alguns sistemas, recorriam a três tipos de certificados
para seus membros:
- Shodan (初段?): significando que se havia adquirido o status de principiante.
- Chudan (中段 Chūdan?):
significava a obtenção de um nível médio de prática. Isso significava
que o indivíduo estava seriamente comprometido com sua aprendizagem,
escola e mestre.
- Jodan (上段 Jōdan?): a graduação mais alta. Significava o ingresso no Okuden (escola, sistema e tradição secreta das artes marciais).
Se o indivíduo permanecia dez anos ou mais junto ao seu mestre, demonstrando interesse e dedicação, recebia o
Menkyo, a licença que permitia ensinar. Essa licença podia ter diferentes denominações como:
Sensei,
Shihan, Hanshi, Renshi,
Kyoshi, dependendo de cada sistema em particular.
A licença definitiva que podia legar e outorgar acima do
Menkyo,
era o certificado Kaiden, além de habilitado a ensinar, implicava que a
pessoa havia completado integralmente o aprendizado do sistema.
O sistema atual que rege a maioria das artes marciais usando
Kyu ("classe") e
Dan ("grau"), foi criado por
Jigoro Kano, o fundador do
Judô. Kano era um
educador
e conhecia as pessoas, sabendo que são muitos os que necessitam de
estímulos imediatamente depois de haver começado a praticar artes
marciais. A ansiedade desse tipo de praticante não pode ser saciada por
objetivos em longo prazo.
A graduação no caratê é importante para indicar o nível de
experiência dos praticantes, e é vista como sinal de respeito para os
atletas
menos graduados. Para demonstrar a graduação os caratecas usam uma
faixa com uma cor na região da cintura. A ordem das cores das graduações
variam de estilo para estilo mas como padrão, a faixa iniciante é a de
cor branca.
Na classificação de faixas coloridas,
Kyu significa classe, sendo que essa classificação é em ordem decrescente. Na classificação de faixas pretas,
Dan
significa grau, sendo a primeira faixa preta a de 1º Dan, a segunda
faixa preta 2º Dan e assim por diante em ordem crescente. Em um plano
simbólico, o branco representa a pureza do principiante, e o preto se
refere aos conhecimentos apurados durante anos de treinamento.
Exame de faixa
Desde que foi estabelecido e aceito o sistema de faixas coloridas, a
graduação do caratê assemelhou-se muito ao seriamento escolar, num
paradigma
no qual os alunos galgam graus ascendentes (e mais complexos) até que
obtenham o de mestre. No exame, são procedidos testes com diferentes
características e exigências, de acordo com o grau de conhecimentos
exigidos para a faixa imediatamente anterior, ou seja, o aluno obtém a
próxima faixa, se conseguir demonstrar que aprendeu a todo o
conhecimento correspondente ao grau que ocupa e pretende superar; em
tese,
somente quando o aluno aprendeu tudo de um estágio é que está pronto
para prosseguir no caminho do caratê. Habitualmente, também se exige
certo período de tempo entre um exame e outro.
[55]
Não existe um consenso sobre os programas dos exames de faixa, variando de organização para organização, ou mesmo de dojôs.
Competição
Competição de caratê:
kumite
Com o câmbio pelo qual passou o caratê, de disciplina marcial pura
para esporte e meio de desenvolvimento físico, paulatinamente algumas
entidades passaram a promover
torneios, cujo fito era promover o intercâmbio e a amizade.
Outros, contudo, sempre alertaram para a alta letalidade de alguns
golpes, como sucedeu num desafio em que o opoente faleceu depois de um
golpe desferido pelo mestre
Choki Motobu. Deste modo, naturalmente foram surgindo regras probitivas e foram sendo adoptadas proteções aos esportistas, dependendo do
sexo, da
idade etc., como
colete para o peito e
capacetes.
Além deste aspecto pragmático, as entidades pretendem fazer com que
suas afiliadas promovam também o lado filosófico do caratê, do respeito
para com os colegas e demais praticantes da modalidade.
[56]
Além da
crítica
sobre o perigos dos golpes, mestres ainda argumentam que as competições
fazem o caratê perder sua essência, como esporte e como arte marcial,
eis que, derivado das próprias normas de proteção aos lutadores, as
entidades vêm limitando o acervo de golpes que se podem utilizar, na
verdade, acenando com um repertório estreito do qual não se pode
desviar, sob pena de desclassificação ou não marcação de pontos. Mas
tais técnicas são deveras eficazes num embate real. Os mestres
tradicionalistas dizem que o praticante pode sair-se muito bem na
competição, mas, como essa não admite contacto maior nem controle
verdadeiro das técnicas, ele não terá um ataque potente nem resistirá a
contra-ataques certeiros.
[57]
Enfim, estão em choque duas abordagens diferentes do caratê: uns com
visão tradicional, entendendo que se trata de uma arte marcial, cujo
objectivo é o aperfeiçoamento, do corpo, do
intelecto, da personalidade etc.; outros, com a visão desportiva, enxergando o caratê como mais uma modalidade.
Os torneios são realizados em duas modalidades,
kata e
kumite. Uma terceira modalidade, que outros enxergam como subdivisão da de
kata, é a de
bunkai.
[58]
Na competição de
kata, pontos são concedidos por cinco juízes, de acordo com a qualidade do desempenho do atleta, de maneira análoga à
ginástica olímpica. São critérios fundamentais para uma boa performance a correta execução dos movimentos e a interpretação pessoal do
kata através da variação de velocidade dos movimentos (
bunkai). Quando o
kata
é executado em grupo (usualmente, de três atletas), também é importante
a sincronização dos movimentos entre os componentes do grupo.
No
kumite, dois oponentes (ou duas equipes de lutadores)
enfrentam-se por um tempo, que pode variar de dois a cinco minutos.
Pontos são concedidos tanto pela técnica quanto pela área do corpo em
que os golpes são desferidos. As técnicas permitidas e os pontos
permissíveis de serem atacados variam de estilo para estilo. Além disso,
o
kumite pode ser de semi-contato (como no estilo Shotokan), ou de contato direto (como no estilo Kyokushin).
Tabela de pontuação utilizada pela Confederação Brasileira de Karate-do -
CBK, e entidades a ela filiadas:
- Ippon (um ponto) - soco na área do abdome, do peito, do rosto ou costas.
- Nihon (dois pontos) - chute na área das costas; chute na área do abdome ou do peito, independentemente de o oponente estar caído ou não.
- Sanbon (três pontos) - chute na cabeça, com contato
controlado (ou, dependendo da categoria em disputa, com aproximação de
5 cm a 10 cm, desde que o oponente não esboce reação), independentemente
do oponente estar caído ou não; derrubar o oponente com técnica de
varredura ou projeção e, num intervalo de até 3 segundos, aplicar uma
técnica pontuável (exceto chute na região do abdome), desde que o
oponente esteja completamente caído, sem chances de contra-atacar.
Há, ainda, confederações que utilizam tabela de pontuação semelhante a esta. Por exemplo, a Confederação Brasileira de
Karate-do Interestilos (
CBKI), bem como as entidades filiadas à mesma, utilizam
wazari (meio ponto - ○), para golpes
chudan (altura do tronco); e
ippon (um ponto - ●), para golpes
jodan
(altos), ou indefensáveis. Nesse sistema de luta, o combate termina
quando o tempo expira ou quando um dos dois oponentes atinge três pontos
(
sanbon), daí o nome do sistema de disputa ser
Shobu Sanbon (disputa por três pontos). Uma variação desse sistema é o
Shobu Ippon (disputa por um ponto), onde vence aquele que conseguir um
ippon ou dois
wazari. Há, ainda, outra variação:
Shobu Nihon (disputa por dois pontos), na qual vence aquele que obtiver dois
ippon's ou quatro
waza-ari's, mas esta última forma de disputa é mais utilizada para competições infantis.
[59]
Vocabulário
-
O caratê desenvolveu-se paralelamente às demais
artes marciais japonesas, em Oquinaua, onde há uma
língua própria. Todavia, o vocabulário é basicamente em japonês.
Notas
- [a] ^ Grafia: "Caraté" ou "caratê" são as formas de grafia correta em língua portuguesa.[60] Em que pese a vigência do Acordo Ortográfico de 1990, pelo qual as letras «K», «W» e «Y» passaram a fazer parte do alfabeto,
a grafia com a letra «K», posto que seu uso seja difundido entre as
associações representativas, deve ser desestimulada, ante o processo
histórico/natural de aportuguesamento da grafia.[61]
O uso da forma com a letra «K» parece dever-se à circunstância fáctica
de os líderes das entidades desconhecerem, no mais das vezes, as normas
de gramática e ortografia do português, devido suas origens,
tradicionalmente estrangeiras. A variação com acento circunflexo
justifica-se, no Brasil, pela influência da língua francesa, em Portugal, com acento agudo, por recepção directa do japonês, na qual o som da letra final seria aberto.[62]
- [b] ^ O termo Kenpo (拳法 kenpō?, lei do punho) designa as artes marciais, em transposição do termo chuan fa, ou, como é dito em português, kung fu.
- [c] ^ O gentílico de Oquinaua tende a variar entre "oquinauense"[63] e "oquinauano", ou, segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990, "okinawano" ou "okinawense".
- [d] ^ Peichin Takahara era um monge de Oquinaua.
- [e] ^ A forma de escrita kanji, do japonês, usa dos caracteres chineses. Assim, o caractere 唐, quando escrito em chinês, soa como "Tang", pelo que a palavra To-de também faz referência à Dinastia Tang.
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Ligações externas
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